“Durante meses e meses só pensei nele. Minha vida girou em torno dele!
Do meu noivo? Não, pobrezinho! Até ele ficou em segundo plano! Do meu casamento!
Nenhum dia se passou sem que houvesse uma conta a pagar, um detalhe a escolher, um assunto a resolver.
Finalmente, tudo pronto! Está certo que os presentes ainda estão amontoados nas caixas, mas está tudo limpo. Tem até produtos de limpeza e lataria nos armários! Minha roupa? Um pouco na “minha” casa um pouco na da minha mãe… O pior é que eu nunca sei onde está o que estou procurando! Mas as malas da viagem estão prontinhas, até a nécessaire, com todos os supérfluos tão essenciais!
Todos os serviços da igreja e da festa foram checados: salão, decoração, o buquê que vai ser entregue no cabeleireiro, as bebidas, os docinhos… Meu Deus! Será que tudo vai dar certo? E o noivo? Será que o pai dele já fez o nó na gravata, como eu pedi? E os docinhos, serão suficientes? Afinal todo o mundo adora levar um tanto pra casa. E o carro? Não posso esquecer de pedir pra fotografar a placa. E se a daminha se assustar com tanta gente? E os padrinhos? Estarão lá na hora certa? E se a pressão da vó sobe bem na hora do casamento?”
Calma! Nada do que você fizer daqui pra frente vai alterar o que foi planejado e feito! Saiba que tudo vai dar certo, mesmo que nem sempre aconteça exatamente como você imaginou. E o que sair diferente, com certeza só você e algumas pessoas muito próximas vão perceber.
Reserve essas últimas horas pra você. Essas horas de solteira, de filha. Olhe cada canto do seu quarto, cada objeto da casa onde você viveu sua adolescência, talvez toda a sua vida.
A chave do portão sempre no mesmo lugar, seu roupão, seus cremes, seus perfumes, seu laptop em cima da poltrona e nunca na bancada, fotos na parede de cortiça, renovadas a cada semana, fotos mais importantes nos três porta -retratos, os tons suaves da cortina e das almofadas, o ursinho já desgastado de tantos abraços, o espaço todo seu depois que sua irmã se casou…
E a Lilica, sempre se metendo no seu caminho, trançando nas suas pernas, trazendo na boca seu último brinquedo, chamando você pra bagunça, chorando para ir com você, saltando numa altura impossível pro tamanho dela quando você volta. O medo de pisar nela. As broncas sem nenhuma convicção e nenhum efeito. Como viver sem ela? Que saudade!
Saudade do seu Tomé, podando a cerca-viva todo mês e falando sobre o tempo, saudade até da vizinha chata que passa toda vez olhando entre as plantas tentando ver alguma coisa nova. Que falta vão fazer os sons da rua, até os que incomodavam, perdidos agora na altura do décimo andar.
Muita saudade do Tuca, companheiro de baladas quando você ainda não tinha carta. Era o seu “avalista”: “Deixa, vai, mãe, eu volto com o Tuca!”
Mas, principalmente, saudade do pai, que ficava sempre vendo um filme “interessantíssimo” até você chegar. E da mãe que tinha sempre uma palavra de entusiasmo quando nada ia bem, que abria sua janela de manhã – pra sua grande irritação- quando você demorava pra levantar.
Agora você se casa! Agora você se lança numa nova vida. Com certeza será uma linda vida, com sua independência, suas coisas, sua casa, seu marido. Agora você começa a escrever uma nova história. Do começo!
Construa diariamente novos laços com essa pessoa que você escolheu. Ele será seu amigo, seu companheiro, sua referência de agora pra frente. Construa com ele um ninho acolhedor para os filhos que vão vir. E tenha sempre em mente que haverá muitas tempestades, mas que casamento é para sempre. Pelo menos acredite nisso firmemente!